RESUMO A partir das práticas discursivas da linha editorial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), especificamente do Boletim Sphan/Pró-Memória e da Revista do Patrimônio, este trabalho analisa a narrativa construída em torno do tombamento do Terreiro da Casa Branca, em Salvador (BA). A abordagem de questões relativas ao tombamento, aliada a diferentes estratégias discursivas adotadas pelos autores que discorrem sobre o processo, associam o Terreiro da Casa Branca à expansão patrimonial das políticas preservacionistas do Iphan na década de 1980. Outras experiências do órgão, como o tombamento da Serra da Barriga (AL), não são tidas, contudo, como parte dessa expansão, sendo eclipsadas ou ainda tomadas como sinônimos do tombamento da Casa Branca. Isso ocorre, dentre outras razões, devido à compreensão do que seria o patrimônio cultural naquele momento. Analisar esse processo ajuda a esclarecer como um determinado contexto sociocultural é restringido dentro da linha editorial do Iphan em favor de uma única experiência, e como isso impede que ocorram avanços na valoração de demais patrimônios afro-brasileiros por esse setor do órgão.
ABSTRACT Based on the discursive practices used by the National Historic and Artistic Heritage Institute’s (Iphan) editorial, specifically on the publications Boletim Sphan/Pró-Memória and Revista do Patrimônio, this paper analyzes the narrative built around the heritage protection process of the candomblé Terreiro da Casa Branca, located in Salvador, Bahia, Brazil. Debates regarding this protection process, allied to different discursive strategies employed by authors, associate this process with the expansion of Iphan’s heritage protection policies in the 1980s. Other experiences within Iphan, such as the listing of Serra da Barriga, located in the state of Alagoas, are not considered part of such expansion, being overshadowed or understood as synonym of the Terreiro’s case. This is due, among other reasons, to the understanding of what a cultural heritage was at that time. Analyzing this process contributes to elucidate how a certain social and cultural context is restricted within Iphan’s editorial line in favor of a single experience, and this prevents advancements in the valorization of Afro-Brazilian heritage.